Tempo Presente, 2018
“Em meu princípio está meu fim. Umas após outras
As casas se levantam e tombam, desmoronam, são ampliadas,
Removidas, destruídas, restauradas, ou em seu lugar
Irrompe um campo aberto, uma usina ou um atalho.
Velhas pedras para novas construções, velhas madeiras para novas chamas,
Velhas chamas em cinzas convertidas, e cinzas sobre a terra semeadas,
Terra agora feita carne, pele e fezes,
Ossos de homens e bestas, trigais e folhas.”
(Quatro Quartetos. T.S.Elliot. East Coker)
O derretimento do gelo e aquecimento das águas são causados principalmente pelo efeito estufa. Cada vez mais sentimos o resultado deste efeito; a fúria da natureza que anda com suas garras afiadas, dragando as cidades, os rios, as margens.
O material resultante criou uma metáfora com a realidade que vivemos hoje: uma época onde o sufocamento é cada vez mais presente na vida das pessoas e o futuro, olhado com intensa desconfiança e pouca perspectiva.
“As casas vivem e morrem: Há um tempo para construir
E um tempo para viver e conceber
E um tempo para o vento estilhaçar as flutuantes vidraças”
(T.S. Elliot. East Coker)
O embate da natureza com a arquitetura, e do mar se apoderando das cidades, é uma realidade em muitos lugares. O lugar escolhido para fotografá-lo é a cidade de Atafona, distrito do município de São João da Barra, Região Norte Fluminense no delta do Paraíba do Sul. Atafona é uma cidade de pescadores e um centro de construção de barcos. Outrora cidade de veraneio, teve seus momentos de fama com um cassino, uma rua na orla chamada Avenida Atlântica e um grande fluxo de turistas. Porém, há mais de 40 anos sofre com a fúria do mar, que em ritmo acelerado, vem destruindo suas construções. Apesar do drama da perda, sua aura mágica e a poética que permeia o embate da natureza com o homem atraem muitos turistas - visitantes que querem viver a experiência da cidade que vai desaparecendo.
O foco do projeto Tempo Presente é o embate homem, arquitetura, natureza, e toda a poesia que envolve esta luta.